segunda-feira, 11 de março de 2013

O poema de Álvaro Magalhães: a ilha do tesouro


                                    A ilha do tesouro

O meu tesouro é um livro

 de folhas gastas, dobradas,

 onde ainda brilha o ouro

 de palavras encantadas.


Se o abro, à noite, no quarto,

 levanta-se um vento leve

 que enfuna os lençóis da cama;

 cheira a sal, ouvem-se as ondas,

 salpicos de espuma volteiam no ar.

 Mas já não voam as palavras que voavam

 e me arrastavam prò o mar,

 o grande mar que é muitos e só um.

 Por mais que escute já não ouço

 a canção dos marinheiros…


Com quarenta homens nos

 fizemos ao mar,

 mas só um, afinal,

 se conseguiu salvar.

 Faca de punho rachado,

 bússola, sabre,

 telescópio de latão.


O mar também é abismo

 e assombro e perdição.

Com mil diabos!

 Icem já a vela mestra!


Depressa! Está na hora de arribar!

 Mesmo em frente há uma ilha

 que cresceu durante a noite

 do outro lado do mar.

 Tragam o mapa de Flint,

 limpem o pó dos canhões,

 sintam o cheiro do ouro.

 O vento nos levará

 para a ilha do tesouro.

 

Para a ilha do tesouro!

 As palavras que me levem

 para a ilha do tesouro

 e seja ela onde for.

 Quero os meus lábios gretados

 pelo sal, pelo calor,

 como no tempo em que era jovem

 e andava no mar

 e era o tempo melhor.

Que aconteceu? Quem sou eu?

 Quem lê o livro não é quem o leu?

 Onde está o mapa

 do tesouro que me deste?

 Três cruzes a vermelho,

 duas a norte, uma a sudeste. (…)


O Limpa-palavras e outros poemas, Álvaro Magalhães (adaptação).

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