A ilha do tesouro
O meu tesouro é um livro
de folhas gastas, dobradas,
onde ainda brilha o ouro
de palavras encantadas.
…
Se o abro, à noite, no quarto,
levanta-se um vento leve
que enfuna os lençóis da cama;
cheira a sal, ouvem-se as ondas,
salpicos de espuma volteiam no ar.
Mas já não voam as palavras que voavam
e me arrastavam prò o mar,
o grande mar que é muitos e só um.
Por mais que escute já não ouço
a canção dos marinheiros…
Com quarenta homens nos
fizemos ao mar,
mas só um, afinal,
se conseguiu salvar.
Faca de punho rachado,
bússola, sabre,
telescópio de latão.
…
O mar também é abismo
e assombro e perdição.
Com mil diabos!
Icem já a vela mestra!
…
Depressa! Está na hora de
arribar!
Mesmo em frente há uma ilha
que cresceu durante a noite
do outro lado do mar.
Tragam o mapa de Flint,
limpem o pó dos canhões,
sintam o cheiro do ouro.
O vento nos levará
para a ilha do tesouro.
Para a ilha do tesouro!
As palavras que me levem
para a ilha do tesouro
e seja ela onde for.
Quero os meus lábios gretados
pelo sal, pelo calor,
como no tempo em que era jovem
e andava no mar
e era o tempo melhor.
Que aconteceu? Quem sou eu?
Quem lê o livro não é quem o leu?
do tesouro que me deste?
Três cruzes a vermelho,
duas a norte, uma a sudeste. (…)
O Limpa-palavras e outros
poemas, Álvaro Magalhães (adaptação).
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